Olhava para ti, como nota de melodia solta que acabara de ser posta no lugar. Emanavas de ti a sonoridade perfeita de uma realidade destroçada e amaldiçoada onde nem quis parar. Seguia os teus lábios com os meus, procurava a tua mão com o meu calor e ignorava os nossos corações. Talvez não ignorasse o teu. Deixava-os ao sol, a queimar. Deixava-os a jorrar em seco e a baterem arritmicamente. Um dia foste-te embora e já só lá encontrei um velho e roto coração. Batia descoordenado, sozinho, seco. Era ridículo e não era o meu.
10 comentários:
E não fossem os corações ridículos os melhores :)
Arrisco um "ainda bem".
Por vezes optamos por escaldar corações, e acabamos por nos engolfar nós mesmos em sorvedouros de sangue.
Na submersão encontrarás outra estação, com a mais silenciosa música...a mais irregular e no entanto tão confortável como aridez tórrida que é.
Adoro.
adorei!
vou seguir, com muito prazer!
De quem era, então? Deixaste-o no lugar onde o encontraste roto e velho ou levaste-o no bolso do casaco para casa? É que hoje acredito que sempre há forma de se retalhar um coração.
Bem, adorei este teu espaço e o que escreves deixou de imediato uma sensação em mim: a de querer ler mais e mais de ti. Gostei muito e vou passar a seguir, um beijinho :)
ah! como te invejo! Gostava de saber habituar-me ao peso das ervas daninhas. Gostava, sobretudo, de não sentir constantemente que essa vegetação é, nem mais nem menos, do que pessoas da minha vida. Árdua tarefa a de podarmos árvores impossíveis, que não existem mas que nos sufocam o coração inteiro. Desconfio que descobrirei um dia que o que me dificulta a respiração e entope os ventrículos não é esta multidão verde que se acumula debaixo da pele, mas o vazio.
Olá, adoro o blog ! Palavras que prendem tão bem... deixo o meu blog sobre música, dá um saltinho por lá.
http://topdaymusic.blogspot.pt/
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