29/01/12


Campos de dálias brancas, sob um céu negro e vento de chuva. A vista da tua janela não me enganava e eu sabia que vinham de ti, más notícias - pelas quais choraria algum tempo. As tuas palavras sempre me fizeram tremer, exactamente por nunca saber que tipo de notícias carregarias contigo. Agora pego nos meus pincéis e misturo às minhas lágrimas as tuas cores quentes com uma fúria e lágrimas que absorvi de ti, da tua serenidade ao dar más notícias. O esboço disforme do teu pensamento ilustra o teu rosto, alegre e radioso como sempre. Branco, imaculado. Como flor eterna sobre o meu próprio tempo.

N.R. a 5 de Maio de 1972

25/01/12

Há por vezes certas certezas sobre o que me espera. Já ao fim do dia e à madrugada me sento a escrever com um enviesamento do pensamento exausto e áspero. O atrito ensurdece e os pequenos prazeres enraízam-se ao chamarem por mim. Invoco melancolias na recordação e a minha alma assegura-se, dolorosamente, da amplificação dos pequenos laivos de simplicidade que tenta absorver e que psicoticamente tenta recordar e catalogar a propósito. O caótico diurno não encaixa a estas horas e a inquietude instala-se! O pensamento deixa de doer e de existir. Começa o desenrolar de letras e a tentativa frenética de me organizar. Hora de destruição e catarse em que me quero prolongar e fazer com que não amanheça mais. Afinal, tenho medo de não querer (simplesmente?) lutar mais por aquilo que à noite não me faz sentido.

15/01/12

verbal overshadowing



Adoro olhar-te com os teus cabelos longos e castanhos, a escrevinhar o teu caderno preto, que de tanto ser aberto, vê já o seu elástico frágil e em grito ténue de ajuda. Adoro a forma como desenhas as penúltimas letras das tuas palavras. És uma perfeição discreta e escondida, que -confesso- tenho medo que outros descubram. És uma ténue mancha que se esborrata em prosa e verso quente em tempo frio. És sorriso de lábios rosados que encharcam o meu ser e possivelmente as minhas palavras. Influência desmedida e imensurável que dificilmente verá par igual. Olhar-te é como levantar bloqueios de alma - pequeninos e fortes- sentir-me livre e escrever. No fim de tudo, talvez não te adore como és, mas como te escrevo.