26/09/11


a verdade é que sei que não vamos ser a concretização de palavras, ilustradamente bonitas e patenteadas em vários romances de verdadeira época. que nunca me vais perguntar se amo outra pessoa e se o meu amor de plasticina em coração quente, vai ser teu para sempre. sei que não vamos ser inspiração de poemas e paisagens de brisas quentes em folhas a peneirar o sol. tens de me perdoar se o que vejo agora, não é mais que despedidas enquanto tu ainda te vês de chegada.

18/09/11

sombras da rua de trás


Sentei-me no degrau sujo e velho à entrada de tua casa. Tinha percebido que não te tinha conseguido apanhar, que já tinhas partido. O céu encontrava-se a escurecer e o frio começava a fazer-se sentir. Os meus sentidos apuravam-se cada vez mais. Consegui perceber a mota que passava a alguns quarteirões dali, conseguia cheirar o conjunto de buganvílias que a tua vizinha ostentava orgulhosamente na sua soleira. Os meus olhos começavam a contar (em vão) as estrelas que iam surgindo sobre o pano negro que a noite trazia e começava a sentir o cheiro do tabaco que um jovem fumava à esquina. Dei por mim a procurar-te, uma vez mais, dentro de mim e em todo o objecto que me pudesse trazer um resto de ti. Raspei os meus dedos contra a minha barba e tentei convencer-me de que não podia continuar ali sentado à tua espera. Convenci-me mesmo de que ia ter que me levantar, esticar as pernas e despedir-me da tua rua e de ti. Das tuas portadas de madeira gasta e paredes de cal cansada e não imaculada. Estava decidido, ia embora! Ia descer a tua rua, ignorar os meus sentidos, pedir um cigarro e provavelmente não te voltar a ver. Era isto que ia fazer juro. Até ver uma luz a acender-se por cima de mim e tua porta a abrir-se contigo a convidar-me para entrar.