31/12/10

BOM 2011

28/12/10

Well, i made you and now i take you back
it's too late but today i can define the lack
i made you and now i take you back.

sun, you sleep in clouds of fire
that's all and that's right
my sun, you sleep in clouds of fire
that's all and that's right.

26/12/10

hoje decidi imprimir a minha vontade


Já não me encontrava há algum tempo sentado [de frente para esta máquina de escrever] de um modo tão calmo e sereno como hoje. Já há certo tempo que não conseguia pensar tão claramente sobre o que me tinha acontecido. Fora uma viagem inesquecível mas que terminara agora. Estava na altura de arrumar a mala e as gavetas das mesinhas de cabeceira. Era tempo de voltar a fechar as janelas e as cortinas para que a potente luz solar [do dia seguinte] não corrompesse o resto de alegria que restava nas paredes daquele quarto [listado de branco e borboletas negras]. Peguei na mala e julguei estar mais pesada do que era devido. Logo vi que iria transportar daquele lugar mais do que era pedido. Logo vi que comigo virias tu. Senti o peso da mala a percorrer o meu braço e arrastei-a até à porta do quarto. Rodei a chave e abri-a num movimento lento e seco. Quase que viscoso e temporalmente em estase.Olhei uma última vez para o fundo do teu quarto e saí. Viajei para longe e regressei ao meu lar. Aqui me estabeleci de novo e tentei a todo o custo desfazer-te da minha mente. Insisto em querer não conseguir.
Hoje ao sentir o frio metálico desta máquina apeteceu-me dizer que já não te amo. Peguei num cigarro velho que tinha em cima da mesa e acendi-o. Puxei pelo seu fumo, menos letal que o teu amor. Fechei os olhos durante três segundos e meio e comecei a escrever. Dizem que o que escrevemos de forma escondida é sempre verdade. Será isso verdadeiro? Quero que seja. Mesmo assim, deixo o meu registo nesta folha amarelada onde vejo as teclas bater. A cada batida, a porta do teu quarto fecha-se novamente. Fico então à espera que nunca mais se abram enquanto o preto da tinta permanecer nesta folha.

Porto, 26 de Dezembro
Lipincot

20/12/10

Frio, é Natal

Hoje encosto-me à montra daquele café largo e lixívico. Tinha caminhado até lá, sob o céu negro, carregado como costumam dizer. Eu próprio vinha carregado. Queria verter e drenar a tristeza que trazia comigo. O desespero estava estampado na minha cara e eu não o conseguia disfarçar. O edifício em frente, reparava eu no seu alto metal erguido em altura que, hoje em dia, parece normal a qualquer um. O vento gelado a dilacerar-me a face e os olhos freneticamente  à procura de mais luzes. A minha cabeça, tornara-se estanque e sob pressão. Carro, luz, vento, luz, pessoa, carros, pessoas, guarda-chuva, luzes. O desespero e a solidão inundavam-me o coração. Uma maré de água gelada que me congela o interior. Queria sentir dor, queria chorar, queria congelar, queria ficar ali. O frio é tanto. Os meus ouvidos tapam e esperam ansiosamente que as luzes gritem do alto metálico. As minhas mãos, enfiadas nos bolsos, contorcem-se às escondidas amassando o papel que não podia ser mais amassado. 
Hoje tu partes e vais embora. Tu. Tu que me davas vontade de caminhar contigo à chuva, que fazias o caminho parecer mais quente, o vento menos gelado. Tu que não sendo perfeito o eras para mim e para as minhas luzes. Foi sem dúvida, uma parte de mim que congelou para ser martelada até ao pó. No lugar dessa parte está agora um vazio e tudo em torno frio. Frio. Frio. 


Bom Natal 

14/12/10

12/12/10

We could have been the best of friends
Now I'll never see this place again
So please don't wait
Don't wait for me to try and get it together
Please don't wait for me to be up here
'Cause I'm not here
'Cause I won't wait around for the grass to grow back now
I won't wait around for the grass to grow back now
Why think about it everyday
We knew to plainly walk away
And I won't wait around for the ice to thaw out now
I won't wait around for the heart to open, let me inside
And I won't fuckin fold, Oh oh, Oh oh
For perfection's in your own, I hope. Oh oh.
And I won't wait around.
Oh oh, Oh oh
For you to figure it out. 

05/12/10

Dotaram-nos desta capacidade que é escrever. Expressar nas palavras toda a nossa fúria e sentimento. Sinceramente gostava de me sentir liberto depois de escrever. Gostava de me sentir esvaziado de raiva e hostilidade depois de descarregar toda a negatividade nas teclas do meu computador. Pensava que escrever seria assim! Será por isso que paro sempre de o fazer? Hoje acordei e fiquei à espera de ter notícias tuas. Nunca as recebi. Talvez não mereça o que te peço ou simplesmente não esteja adaptado ao teu peculiar amor e à tua forma, meticulosamente esculpida, de o demonstrares. Acabas por voltar depois do tempo devido. Depois de me ferires, depois de me não deixares cicatrizar. É uma pobreza crescente que se vai infiltrando. Fria e maleável. Atípica. Sinto-me entorpecido com os preenchimentos sucessivos que vais fazendo em meu redor. Com um espaço fixo sou espezinhado e sufocado. Quero dar-te o que tenho. Quero-te longe de mim. Sim, longe. Longe é o melhor.
Lipincot

23/11/10

i want you back.

Esfregava os meus pés na terra e no meio das folhas húmidas e castanhas. Era puro Outono e os teus olhos não o conseguiam esconder. Dançavas na ondulação do tempo e despreocupada procuravas sorrir-me. Tiro-te da minha mente. Desta vez é para sempre! Prometo-te. Apareces de vez em quando e despertas mim eixos misteriosos que imprudentemente decido explorar. Quando te enfrento, quero embrenhar-me e aconchegar-me em ti por mim. Sinto-te corrosiva, degradante, fútil e oca. Sinto-te de muitas maneiras. Não sei! Sinto-te. Decido voltar para dentro e calço-me. A tocar na minha pele, volta o calor do espaço. Madeira e vidro, quadrada e arquitectonicamente combinados. O cheiro químico das tintas a inundar as minhas narinas. Olho para as minhas mãos e, ainda com pedaços de tinta da noite anterior, pego no cabo do pincel para o fazer mergulhar nas borras coloridas que estão em cima da mesa.
É prazer! A textura e o mergulho.
A resistência e a fusão.
À tela desfaço-me em fragmentos dissociados que coram todo o cenário.
No meio do vermelho e amarelo permaneço fiel. À tua espera.
À espera que me movas. Que me desloques para longe, para a mistura.

wait! did i ever had you?

17/11/10

With photographs and magnetic tape we Capture.
Pretty animals in cages, pretty flowers in vases, Enraptured.
And doesn’t the tree, write great poetry?
Doing itself so well.
Do you blame Monet? His gardens in giverny?
He captured.
And lovely basho, his plunking ponds and toads - Enraptured.
The fate of Kurt Cobain junk coursing through his veins,
and young Virginia Woolf, death came and hung her coat.
Love of color, sound and words. Is it a blessing or a curse?
Enraptured.

.

Produzo-te constantemente no meu inconsciente. O acto de produzir traz alguns incómodos ao ser humano. Sei que maioria da alegria de te ter comigo para sempre é saber precisamente que te tive e que te posso, agora (estupidamente, só agora) produzir sem restrições. Sabia que não te devia ter largado. Agora, partilham-te os lobos esfomeados. Foste produção de facto ilusoriamente real. O teu toque e sorriso, a tua dedicação e o teu cheiro.
E tu?

30/10/10

Títere

29.10.2010 - Morte de João Paulo Seara Cardoso, fundador do Teatro de Marionetas do Porto

20/10/10

constância

São cabelos lambidos e escorridos na primeira manhã em que o frio se faz sentir nos nossos pulmões.
O comboio pára para abandonar a multidão num deserto de pedra cinza que com nada se parece. O cigarro está a arder no chão quando tu o apagas com o teu calcanhar. Ninguém o apaga assim. A manhã começa a aparecer no céu e ao longe o frio mostra-se e deixa de infiltrar a minha respiração.
Acho que vou fazer parte dele não tarda nada.
Após subir arduamente a rua que tu me obrigas, chego à praça e ninguém está lá.
Agarras o meu caso e puxas-me para ti. Sinto os teus lábios gelados nos meus enquanto tapas as minhas orelhas para que não congelem. A fonte, suja como sempre, dá-te o mote de despedida. Largas a minha mão e deixas um até para a semana!
E agora? Que faço?

26/09/10

o que tu serás


És arte imposta à minha postura. Uma caixa de música que não quebra com o tempo. Lembrança reconfortante de um tempo ido. Tempo cor-de-rosa pálido e partilhado de admiração pelo futuro e por tudo o que se previa vulgarmente corrente. Foste crença oca em tudo aquilo que me ensinaste [de errado e passaste-o na mesma]. Hoje estás alegre e contente a beber o teu whisky quente enquanto eu te vejo a morrer fixada nessa miragem de areia seca emoldurada por mogno castanho que detestas. Vai, eu fico a apreender novos éteres, para que no futuro te possa voltar a ensinar alguma coisa.

23/09/10

destroi-me

prefiro pensar que estou em pleno mergulho. um mergulho enegrecido pelas águas geladas que me circundam. sinto-me calmo e pareço ouvir, sob mim, o som do meu próprio coração a bater. já bateu mais e melhor por ti. tu, foste a desgraça do meu ser. tu, que amei visceralmente. tu, que és doce e não amargo. que afagas e não destróis. tu, que consegues ser cruel! consegues emanar de ti espículas trespassantes que me quebram, ferem e quebraram. agora que os teus e os meus seis tipos de cimento não me consertam é altura de me desmoronar. é altura de deixar cair pedregulhos sobre ti. é altura de deixar o tempo esmagar. é altura de subir o rosto e edificar-me, sentir-te no pó do ar e sorrir.

Lipincot

05/09/10

só posso, gostar de te ouvir

É ouvir-te com a guitarra em punho. Dedilhando aquelas cordas e agitando todo o teu corpo ao próprio som que crias. Os teus cabelos castanhos e desgrenhados electrificam-se com todo o movimento. Enquanto tocas, a tua pele branca enrubesce e prometes que vão ser os teus últimos acordes. O coração acelera-te e tu acalma-lo. As gotas que começam a sair do teu corpo arrefecem e, com um último movimento, descarregas todo o teu antebraço em direcção ao solo produzindo notas, que por mais ondulações que tivessem não conseguiriam atingir-me. Sais porta fora e em minha casa fica a tua guitarra encostada. A electricidade dos teus cabelos e notas mudas pelo ar.
Lipincot

21/08/10

Meia Luz

http://olhares.aeiou.pt/aalice

À meia luz disseram que eramos novos de mais, mas agora que a noite cai, nós corremos por nós. Fechem-nos bem e escondam todas as chaves. A noite, ao chegar, libertar-nos-à e à meia luz nós seremos livres.
Esquisito o facto, de nesse intermédio, todos os lugares serem novos. Eu não te reconheço e tu não me reconheces a mim. Corremos por ruas que conhecemos tão bem, e quando vemos as casas a esconderem-se [com aquela perfeição que lhes é característica] sabemos que vamos ficar a meia luz. Nenhum de nós diria que à meia luz conseguem esconder oceanos em conchas. Um oceano por concha! As nossas mentes são casas perfeitas, só que sem janelas suficientes, que ao dizerem que ouvimos vozes humanas, sabemos imediatamente que são ecos.
Não conseguimos ouvir mais nada, apenas os passos da nossa corrida sob aquela luz que é mais que [in]suficente.

# adaptado de Arcade Fire

17/08/10

Mistérios da Carne

# mysterious skin

I think I'll go home and mull this over before I cram it down my throat. At long last, it's crashed, it's colossal mass has broken up into bits [in my moat]. Lift the mattress off the floor, walk the cramps off go meander in the cold! Hail to your dark skin, hiding the fact you're dead again underneath the power lines [seeking shade]. Far above our heads are the icy heights that contain all reason.
It's a luscious mix of words and tricks, that let us bet when you know we should fold. On rocks I dreamt of where we'd stepped and the whole mess of roads we're now on.
Hold your glass up [hold it in] never betray the way you've always known it is. One day i'll be wondering how [I got so old just wondering how] I never got cold wearing nothing in the snow. This is way beyond my remote concern of being condescending. All these squawking birds won't quit. Building nothing, laying bricks.
# caring is creepy

Waris Dirie

# vénia à sua história

16/08/10

Escrevo de novo, não por ti

Coisa curiosa é esta de escrever. Não compreendo o mistérios das palavras e das suas intrincadas redes que juntas, formam grandes páginas de livros e sebentas das quais não me consigo livrar. Gosto tanto de palavras! Senhoras da sua existência. Impressas com uma força prensada de máquina, que estala o papel sempre que se bate na tecla. Leio, começo e recomeço, e ali ando a brincar com elas. A fazer-lhes confusão, tal como elas me fazem a mim. Ouço o senhor Saramago a falar e imediatamente imagino um rol de páginas brancas na minha mente. Páginas essas que são atacadas de imediato por uma máquina frenética, que imprime de uma maneira negra e não poupadora, aquelas delicadas folhas brancas. Há quem tenha esse dom! Escrever como Pensa. Pensar como Lê.
Agora volto aqui?
Sim, tudo porque quando cheguei a um telhado conhecido estavam lá os dois. Sentados a uma mesa de madeira, iluminados apenas por duas velas (e uma garrafa) que trouxeram e pela luz da lua, ténue e trémula. Rodeados de livros, ela pegara num exemplar, abrira-o na página que conhecia de cor (ou talvez que tivesse marcado o canto, com uma dobra assassina e possessiva) e lia para ele em voz alta. Ele deixava-se guiar pela voz dela. (Res)sentou-se na sua cadeira, puxou do seu cigarro e acendendo-o inalou uma baforada de fumo. Ao expeli-lo o fumo pairou até ascender à lua. Pegou no seu copo de vidro com vinho e bebeu-o. Fechou os olhos, formando uma figura asiaticamente amigável, e ali ficou a ouvi-la e a vê-la iluminar-se com a felicidade que as palavras lhe traziam e que ela bem merecia.

31/01/10

Responde-me

E voltei ao mesmo de sempre. A voz está rouca, a carótida pulsa-me e penso que mais cedo ou mais tarde uma das minhas artérias fumadas vai explodir de tanta raiva. Não dela em especial, da situação que eu ajudei a criar e não ajudei a resolver. Penso que só compliquei. A culpa necrotizante dos meus tecidos inunda-me nauseabundantemente. Já me tinha esquecido do que era voltar a escrever e a libertar palavras presas, num misto dançante de música e acordes musicias e franceses. Sinto que há uma ilusão pendente (gangrenada?). Vai cair? Vai curar? Responde-me. Começo a sentir que o verão não chegará. Virá o outono.